Isollyna
era uma senhora que aparentava ter uns setenta anos de idade. Em sua casa, ela
criava sete gatos pretos. Não deixava de ser uma idosa estranha. Possuía uma
longa cabeleira loira, escondida sempre por lenços coloridos. Em sua testa, ela
trazia uma verruga enorme e, no centro dessa verruga, notavam-se três pequenos
fios de cabelos negros. Fora casada, porém não tinha filhos.
Nunca
mais me esqueci de todas as coisas que contavam sobre ela. Agora, vocês também
conhecerão a sua história...
Ela
era a sétima filha de um sétimo filho. Era, ainda, fruto de um incesto, ou
seja, na verdade ela era filha de dois irmãos que, por obra do destino, foram
separados quando crianças e entregues para dois donos de circos que passaram
por minha cidade entre os anos de 1890 e 1891. Dizem que os irmãos voltaram a
se encontrar novamente quinze anos mais tarde, vivendo a partir daí, como
casal, uma vida conjugal.
Quando
Isollyna nasceu, seus braços tinham a curvatura contrária, ou seja, os
cotovelos localizavam-se na parte da frente dos braços. Na sola de seus pés e
nas palmas das mãos, Isollyna tinha grossos cascos e, como se isso não bastasse,
uma pequena crina nascia na parte de cima de sua cabeça e seguia até o meio de
suas costas. Não se sabia o porquê daquilo. Seu parto foi feito na zona rural,
sob os cuidados de uma parteira, o que era usual naquela época.
Contam
que o seu pai, o senhor Jarbaz, era um homem muito esquisito, suspeito de
roubar, naquela região, crias equinas que levava para sua casa dentro de um
saco, após esquartejá-las no meio do mato. Parecia que as éguas sentiam a morte
dos filhotes, pois choravam por alguns dias, até que os fazendeiros e sitiantes
achavam, depois de um tempo, somente as cabeças e os pés daqueles cavalinhos.
O
fato de Isollyna ter nascido daquele jeito talvez fosse um castigo para Jarbaz,
por ter assassinado vários potrinhos que ainda nem haviam desmamado. Contudo, a
menina cresceu e seus problemas foram minimizados por várias cirurgias
custeadas pela comunidade rural onde morava. Ela foi levada para fazer
correções ortopédicas em são Paulo durante muitos anos.
O
tempo passou e seus pais morreram de uma doença desconhecida. Isollyna, já
moça, resolveu se casar com um tal de Rovilson, após namorá-lo por poucos
meses. Rovilson era um rapaz simples, trabalhador rural e meio beberrão
(gostava de tomar umas e outras). Nos finais de semana, ele sempre voltava para
casa embriagado e Isollyna lhe dava a maior bronca.
Certo
dia, uma sexta-feira de Quaresma, Rovilson acorda assustado com o barulho de
trotes que vinha de seu quintal. Parecia que um cavalo furioso rondava a sua
casa e se debatia pelas paredes, tentando entrar pela porta principal.
Rovilson
gritou várias vezes por sua mulher, Isollyna, porém, ela não estava dentro de
casa, havia sumido da cama durante aquela noite. Cada vez que Rovilson a
chamava, aquele cavalo relinchava lá fora.
Ele
então resolveu sondar por um pequeno buraco da janela de seu quarto. Quando
aquele animal veio dos fundos da casa e passou em frente da janela, Rovilson
ficou apavorado. Era uma enorme égua branca e possuía uma crina loira com
alguns lenços amarrados. Mas, o terror tomou conta de sua mente quando ele viu
que estava faltando alguma coisa no animal: A cabeça daquela égua simplesmente
não existia!
Rovilson
havia se casado com uma mulher que virava a verdadeira mula sem cabeça...
Rezando
todas as rezas que conhecia, ele aguardou o dia clarear e desapareceu da vida
de Isollyna para sempre. Depois disso, Isollyna nunca mais se casou e seus sete
gatos pretos eram suas únicas companhias.
A
transformação em mula sem cabeça era o carma que Isollyna tinha que carregar eternamente
para, assim, pagar pelo pecado cometido por seu pai.