Lobisomem


Mesmo aquele de coração puro 
Que reza de noite as suas preces 
Pode-se tomar um lobisomen.
Assim diz uma canção antiga que fala do risco da transformação em lobisomem. Assim como os vampiros assombravam a Transilvânia, também os lobisomens perturbavam a Europa  Setentrional e Ocidental. As lendas dos lobisomens remontam talvez aos mitos dos deuses noruegueses, que, segundo se dizia, assumiam a forma de animais, tais como o urso e o lobo. Mais tarde, no século XVI, durante a época de perseguição às bruxas, admitiu-se que estas se podiam transformar em lobos. Na sua forma humana, não é fácil distinguir um lobisomem de um vampiro, uma vez que partilham de numerosas características, tais como as sombracelhas unidas, unhas em forma de garras, orelhas pequenas, por vezes ligeiramente pontiagudas, e mãos peludas. A única e ligeira diferença entre ambos é que o dedo anelar das mãos de um lobisomem é supostamente tão grande como o dedo médio ou maior ainda. Realizada a transformação, o lobisomem surge sob a forma de um lobo gigantesco que se desloca quer sobre as 4 patas, quer como um bípede extremamente peludo que conserva traços humanos, embora particularmente repulsivos, e garras nas mãos. Em qualquer das formas, rasga as gargantas das vítimas, cuja carne devora em seguida. Na Itália do século XVI cria-se que cresciam pelos nas entranhas de alguns lobisomens. Em 1541, pelo menos um suspeito morreu sob os escalpelos dos seus examinadores. Suspeitou-se de que o impopular rei inglês João Sem Terra, que reinou entre 1199 e 1216, seria um lobisomem. Uma crônica normanda descreve como os monges, tendo ouvido ruídos procedentes da sua sepultura, retiraram o seu corpo de terra consagrada. São muitos os processos através dos quais um homem se pode converter num lobisomem. Gervase of Tilbury, um eclesiástico medieval, considerava um método infalível desnudar-se e rolar sobre a areia em noite de lua cheia. No folclore italiano, bastava ser-se concebido por altura da lua nova ou apenas dormir ao relento sob a lua cheia uma sexta-feira para se ser transformado num lobisomem. Conta-se que, na lrlanda, S. Patrício amaldiçoou um clã inteiro cuja falta de fé lhe desagradava; de 7 em 7 anos os membros desse clã convertiam-se em lobisomens. Segundo algumas lendas européias, a transformação verifica-se quando se bebe num regato onde tenha bebido um lobo, quando se é mordido por um lobo raivoso ou quando simplesmente se come acônito. São também variados os processos utilizados contra os lobisomens. O folclore franco-canadiano aconselha um exorcismo no qual se invoque o nome de Cristo ou se chame por 3 vezes o lobisomem pelo seu nome de batismo. Na França, o método indicado para o vencer consistia em extrair-lhe 3 gotas de sangue durante a sua fase de lobo. Mas o método mais divulgado para libertar um ser humano da condição maldita de lobisomem consistia em alvejar o animal com uma bala de prata, preferivelmente de prata consagrada, obtida, por exemplo, do crucifixo de uma igreja. 
Fonte: Blog de Mário Machado

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