
Eu tinha uns 15 anos (hoje tenho 35) e não tinha namorada, andava sozinho, e nem na escola as meninas queriam namorar, pois eu era nerd, então isso me deixava deprimido eu tinha poucos amigos. Eu morava em cidade pequena e então eu comecei a visitar cemitérios...era o lugar mais lindo do mundo, eu andava pelas sepulturas, túmulos e então aquele era meu mundo particular, eu me sentia como um rei naquela terra de pessoas mortas, a energia que emanava daquele lugar me dava forças novas, eu conhecia cada sepultura, e tinha a curiosidade de saber com os coveiros sobre como foi a vida daquelas pessoas, e algumas eles conheciam, outras não. Eu então imaginava como era a vida de cada pessoa morta antes do falecimento, eu imaginava eles vivos, sorrindo, brigando, comendo, bebendo, matando, morrendo, tudo que os vivos fazem, nunca se lembrando que vão morrer um dia, e as viagens que fizeram, e os amores que viveram, e como morreram de várias formas diferentes, como foi o dia e o choque dos parentes ao saber, a dor dos entes queridos e amigos e colegas e amores do falecido, os sonhos e planos e projetos nunca realizados, eu via tudo isso em meus pensamentos.
Eu visitava toda semana os cemitérios, mas eu me apaixonei por uma menina que era linda, nova, de pele muito clara e loura, e olhos azuis cor do céu, com foto em sua capela, dentes alvos, era linda, eu me apaixonei por ela, e então eu fiquei tão apaixonado por ela que passei a ter sonhos com ela viva, eu não via seu rosto no início, mas aos poucos eu sempre encontrava com ela num lugar escuro em sonhos repetidos várias noites, era lindo meu amor por ela. Com o tempo eu fiquei sabendo o nome dela, como morreu depois de atropelada, e agonizar 2 dias em hospital. Eu achava ela real, eu a desenhava em meus cadernos, pintei seu rosto, tinha o nome dela em tudo que eu escrevia, o melhor no sonho era nosso encontro sempre de madrugada de 3 às 4 horas, sempre nessa hora...ela estava comigo num lugar escuro, frio, com neblina, sempre com túmulos e ossos em volta, tudo quase em trevas total, como à luz da Lua, com céu semi nublado, eu então conversava com ela, e quando acordava vinha o desespero de nunca à ter perto de mim pois ela era uma morta, eu então queria dormir e morrer para viver ao lado dela, ela me completava, me dava carinho e amor, ela não tinha defeitos, sempre vestida de vestido branco, eu sabia que não era normal eu amar quem morreu, mas era a única forma de amar de tão rejeitado que eu era pelas meninas vivas, a menina mais linda do mundo era ela, e era só minha...e para sempre.
O curioso é que eu conversava com ela o tempo todo mas não me lembro de nada que eu tenha dito para ela, e nem lembro nada que ela tenha me dito, era conversa o tempo todo e quando eu acordava eu nunca lembrava qual era o assunto que tanto falávamos, eu sempre ia ao encontro dela e ela nunca ao meu, eu nunca via o rosto dela de frente, mas sabia como ela era pela foto da capela onde ela estava sepultada, de costas eu à via sempre, de cabelos louros e longos, eramos únicos naquele momento, somente eu e ela no mundo...e era amor como os jovens de hoje não mais conhecem, pois o amor está morto nos dias atuais, hoje não existe mais amor, hoje existe somente o ato de ‘’ficar‘’, nos dias de hoje o amor foi ridicularizado, destruído. Poucas pessoas nos dias de hoje sabem o que é amar alguém de verdade na vida, era amor puro e verdadeiro, leve e sem cobrança, era êxtase e pura magia, pena que acabou.
Hoje eu vivo sozinho, não me casei e não tive filhos, e nem quero ter, e nunca mais vi meu amor, eu amo os mortos e sei que em algum lugar a vida continua, e nesse lugar o amor verdadeiro existe, eu espero que no dia que eu morrer, eu encontre meu amor, que um dia se foi sem eu me despedir...
biografia:http://www.sobrenatural.org/relato/detalhar/22279/o_cemiterio_da_saudade_/